Os casos de violência contra mulheres aumentaram quase 20% em maio, na comparação com o mesmo mês de 2021, de acordo com dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. A maioria das vítimas nunca pediu medida protetiva contra o agressor.
Tainara Oliveira Silva, de 19 anos foi morta pelo ex-namorado em fevereiro na cidade gaúcha de Charqueadas. Ela trabalhava num salão de beleza e levou uma facada. A amiga lembra que a jovem sofria ameças do ex-companheiro.
“Não deu tempo dela pedir ajuda, nem denunciar, não deu tempo, quando eles tiveram o último contato para ter o desligamento, ele matou ela”, conta a cabeleireira Leonora Triunfo.
No Rio Grande do Sul, os feminicídios aumentaram 42,9% em maio (+42,9%) na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em cinco meses, foram 45 vítimas. Só nesta semana, três mulheres foram assassinadas. Em 90% dos casos, elas não tinham medida protetiva contra o agressor.
“A maioria das nossas vítimas foi morta dentro de casa e pelo companheiro com o qual ela tinha um histórico de violência, e isso a gente verifica conversando com testemunhas ou familiares, mas ela não tinha um histórico de ocorrências policiais”, diz a delegada Cristiane Ramos.
A violência é registrada em várias regiões do Rio Grande do Sul. Em Porto Xavier, no noroeste do estado, a medida protetiva de Vânia Gonçalves, de 35 anos, havia expirado há quase um ano. Ela foi esfaqueada no domingo pelo ex-companheiro.
Em Porto Alegre, Angélica Aparecida Cidade da Silva, de 46 anos, não tinha denúncia contra o marido. O corpo dela ficou escondido em casa por três dias, após ser estrangulada com um cachecol. Para a polícia, a interferência de vizinhos que ouviram a gritaria poderia ter evitado a morte.
“Em briga de marido e mulher se mete a colher sim, a gente tem que denunciar, tem que buscar as autoridade e muitas vezes a mulher está tão inserida naquela situação, ela já foi tao manipulada, que nem percebe, ela acha que a culpa foi dela”, diz a delegada Cristiane Ramos.
A promotora que coordena o grupo de prevenção a violencia doméstica diz que os atuais números mostram que estado e instituições falharam, e que é preciso fazer muito mais, a começar pelo atendimento às vítimas.
“A mulher não poder ser ‘revitimizada’, não pode se sentir culpada pela aquela agressão. Aquela velha frase mulher gosta de apanhar. Não, não é isso, ela está num ciclo de violência em que ela não consegue romper com ele”, diz Carla Frós.